Agostinho Neto
Agostinho Neto
Cateten jaio zen, Angolan, 1922an. Portugalen medikuntza ikasketak egin
zituen eta gaztetandik ekin zion jarduera politikoari, Salazarrren
diktadura garaian sasian egin beharreko lanari. Ikasketa Afrikarren
Zentroa sortu zuten hainbat gaztek Portugalen 50eko hamarkadan, tartean
Agostinho Neto, Francisco Jose Tenreiro, Amilcar Cabral eta Mario de
Andrade. Gutxi iraun zuen irekita, baina haziz zihoan hala Angolako
lurretan nola Portugalen eta erbestean, Angolako herriaren aldeko
mugimendu politikoa. Jarduera politikoari lotua, Agostinho Netok 1956an
parte hartu zuen Angolako
Liberazioaren Aldeko Mugimenduaren sorreran
(MPLA). BIBLIOGRAFIA:
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Afrikaren negarra
Agostinho Neto
euskaratzailea: Urtzi
Urrutikoetxea
Negarra mendetan zehar
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O choro de Äfrica O choro durante séculos / nos seus olhos
traidores pela servidão dos homens/ no desejo alimentado entre
ambições de lufadas românticas / nos batuques choro
de África / nos sorrisos choro de África / nos sarcasmos
no trabalho choro de África. //Sempre o choro mesmo na vossa
alegria imortal / meu irmão Nguxi
e amigo Mussunda / no circulo das violências / mesmo na magia
poderosa da terra / e da vida jorrante das fontes e de toda a parte e
de todas as almas / e das hemorragias dos ritmos das feridas de
África //e mesmo na morte do sangue ao contacto com o
chão / mesmo no
florir aromatizado da floresta / mesmo na folha / no fruto / na
agilidade da zebra / na secura do deserto / na harmonia das correntes
ou no sossego dos lagos / mesmo na beleza do trabalho construtivo dos
homens //o choro de séculos / inventado na servidão / em
histórias de dramas negros almas brancas preguiças / e
espíritos infantis de África / as mentiras choros
verdadeiros nas suas bocas / o choro de séculos / onde a verdade
violentada se estiola no circulo de ferro / da desonesta força /
sacrificadora dos corpos cadaverizados / inimiga da vida //fechada em
estreitos cérebros de máquinas de contar / na
violência / na violência / na violência // O choro de
África é um sintoma //Nós temos em nossas
mãos outras vidas e alegrias /
desmentidas nos lamentos falsos de suas bocas - por nós! / E
amor / e os olhos secos. |
Kontzientzia hartzea
Agostinho Neto
euskaratzailea: Koldo Izagirre
Izua airean! barrandariak zelatan
begiratuak sutan |
Consciencialização Medo no ar! //Em cada esquina / sentinelas
vigilantes incendeiam olhares / em cada
casa / se substituem apressadamente os fechos velhos / das portas / e
em cada consciência / fervilha o temor de se ouvir a si mesma //
A historia está a ser contada / de novo // Medo no ar! //
Acontece que eu / homem humilde / ainda mais
humilde na pele
negra / me regresso África /para mim / com os olhos secos. |
Hemen kartzelan
Agostinho Neto
euskaratzailea: Koldo Izagirre
Hemen kartzelan |
Aqui no cárcere Aquí no cárcere / eu repetiria
Hikmet / se pensasse em ti Marina / e naquela casa com uma
avó e um menino // Aquí no cárcere / eu repetiria
os heróis / se
alegremente cantasse / as canções guerreiras / com que a
nosso povo esmaga a escravidão // Aquí no cárcere
/ eu repetiria os santos / se lhes
perdoasse / as sevícias e as mentiras / com que nos
estralhaçam a felicidade // Aquí no cárcere / a
raiva contida no peito / espero
pacientemente / o acumular das nuvens / ao sopro da História |
Borroka
Agostinho Neto
euskaratzailea: Koldo Izagirre
Bortizkeria |
Luta Violéncia / vozes de aço ao sol /
incendeiam a paisagem já quente // E os sonhos / se desfazem /
contra uma muraha de baionetas // Nova onda se levanta / e os anseios
se desfazem / sobre corpos
insepultos // E nova onda se levanta para a luta / e ainda outra
e outra /
até que da violência / apenas reste o nosso perdão.
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Sortu
Agostinho Neto
euskaratzailea: Mikel Elorza
Sortu sortu sortu espirituan sortu giharrean sortu nerbioan sortu gizonarengan sortu masarengan sortu sortu begiak lehorrik Sortu sortu basoaren profanazioaren gainean zigorraren indar lotsagabearen gainean moztutako enborren lurrinaren gainean sortu sortu begiak lehorrik Sortu sortu algarak zartailuaren irainaren gainean adorea basomutilaren boen puntetan indarra bortxatutako ateen puskatzeetan tinkotasuna segurtasunik ezaren odol gorrian sortu sortu begiak lehorrik Sortu sortu izarrak mailu borrokalariaren gainean bakea haurren negarraren gainean bakea izerdiaren gainean kontratuaren malkoaren gainean bakea gorrotoaren gainean sortu sortu begiak lehorrik |
Criar Criar criar / criar no espírito criar no
músculo criar no nervo / criar no homem criar na massa /
criar / criar com os olhos secos // Criar criar / sobre a
profanaçáo da floresta / sobre a
fortaleza impúdica do chicote / criar sobre o perfume dos
troncos serrados / criar / criar com os olhos secos // Criar criar /
gargalhadas sobre o escárnio da palmatória
/ coragem nas puntas das botas do roceiro / força no
esfrangalhado das portas violentadas / firmeza no vermelho sangue da
insegurança / criar / criar com os olhos secos // Criar criar /
estrelas sobre o camartelo guerreiro / paz sobre o
choro das crianças / paz sobre o suor sobre a lágrima do
contrato / paz sobre o ódio / criar / criar paz com os olhos
secos. // Criar criar / criar liberdade nas estradas esclavas / algemas
de amor
nos caminhos paganizados do amor / sons festivos sobre o balancio
dos corpos em forcas simuladas // criar / criar amor com os olhos
secos. |
Honela zegien oihu ahiturik
Agostinho Neto
euskaratzailea: Bego Montorio
Ez
dut ezer esango |
Assim clamaba esgotado Não diréi nada / nunca fiz nada
contra a vossa pátria / mas vós apunhalastes a nossa /
nunca conspirei nunca falei com amigos / nem com as estrelas nem com os
deuses / nunca sonhei / durmo como pedra lanzada ao poço / e sou
estúpido como as carnificinas vingativas / nunca penséi
estou inocente / não diréi nada não sei nada /
mesmo que me espanquem / não diréi nada / mesmo que me
oferejam riquezas / não diréi nada / mesmo que a
palmatória me esborrache os dedos / não diréi nada
/ mesmo que me ofereçam a liberdade / não diréi
nada mesmo que me apertem a mão / não diréi nada
mesmo que me ameacem de morte //Ah! / a morte // Morreu alguém
no meu lar / No meu lar havia uma filhinha /
estrela brilhante no céu da minha pobreza / ela morreu // Vejo a
grinalda blanca da sua inocência / arrastada nas
águas sobre o seu corpo / Ofélia negra neste rio
podré da escravatura. |
Mendebaldeko zibilizazioa
Agostinho Neto
euskaratzailea: Bego Montorio
Poteak makiletan
iltzaturik |
Civilizaçao ocidental Latas pregadas em paus / fixados na terra /
fazem a casa/ |
Poesia afrikarra
Agostinho Neto
euskaratzailea: Bego Montorio
Han zeruertzean suaeta zuhaitzen soslai ilunak besoak jasota Airean erretako palmondoen usain berdea Poesia afrikarra Errepidean zamaketari angolarrak ilaran mandiokaren zamapean aieneka Gelan begi eztietako mulatatxoa aurpegia rougez eta arroz hautsez apaintzen Emakumeak mokorrak kulunkatzen ditu oihal sendoen azpian Ohean gizon logabeak gogoan du sardeskak eta aiztoak erosi behar dituela mahaian jateko Zeruan suaren distira eta beltzen soslaiak danbor joka besoak jasota Airean marimbetako melodia beroa Poesia afrikarra Eta errepidean zamaketariak gelan mulatatxoa ohean gizon logabea Sutontziek kontsumitu egiten dute agortu sutan diren zeruertzen lur beroa. |
Poesia africana Lá no horizonte / o fogo / e as
silhuetas escuras dos imbondeiros / de braços erguidos / No ar o
cheiro verde das palmeiras queimadas // Poesía africana // Na
estrada / a fila de carregadores bailundos / gemendo sob o peso da
crueira / No quarto / a mulatinha de olhos meigos / retocando o rosto
com rouge e pó-de-arroz / A mulher debaixo dos panos fartos
remexe as ancas / Na cama o homem insone pensando / em comprar
garfos e facas para comer à mesa // No céu o reflexo do
fogo / e as silhuetas dos homens negros
batucando / de braços erguidos / No ar a melodía quente
das marimbas // Poesía africana // E na estrada os carregadores
/ no quarto a mulatinha / na cama o homem
insone // Os braseiros consumando / consumindo / a terra quente dos
horizontes em
fogo. |
Arnasa
Agostinho Neto
euskaratzailea: Iñigo Aranbarri
Oraino ere ene kantu mina Eta ene malura Kongon, Georgian, Amazonasen Oraino Ene batuque ametsa ilargi argi gauetan Oraino ene besoak Oraino ene begiak Oraino ene oihuak Oraino bizkar zigor harrotua Bihotz abandonatua Indarrari eskaintzen fedea Oraino ere zalantza Eta ene kantuen Ene ametsen Ene begien Ene oihuen Ene mundu bakartuaren gainean Denbora geldirik Oraino ene naizena Oraino quissangea (1) Marinba Biola Saxofoia Oraino ene orgia-erritoen aireak Oraino ene bizitza Bizitzari eskainia Oraino ene nahia Oraino ene ametsa Ene oihua Ene besoa Ene Nahiari eusten Eta sanzaletan (2) Etxeetan Hirietako kanpo auzoetan Mugarriez haratago Etxe aberatsen zoko ilunetan Non negroak ahopeka ari diren: oraino Ene Nahia Indar bilakatua Etsitako barruei haize ematen Angolako musika tresna , lamelofonoa Angolako baserri etxeen multzoa |
Aspiraçao Ainda o meu canto dolente / e a minha tristeza
/ no Congo, na Geórgia, no Amazonas // Ainda / o meu sonho de
batuque em noites de luar // ainda os meus braços / ainda os
meus olhos / ainda os meus gritos // Ainda o dorso vergastado / o
coração abandonado / a alma entregue à fé /
ainda a dúvida // E sobre os meus cantos / os meus sonhos / os
meus olhos / os meus gritos / sobre o meu mundo isolado / o tempo
parado // Ainda o meu espírito / ainda o quissange / a marimba /
a viola / o saxofone / ainda os meus ritmos de ritual orgíaco //
Ainda a minha vida / oferecida à Vida / ainda o meu desejo //
Ainda o meu sonho / o meu grito / o meu braço / a sustentar o
meu Querer // E nas sanzalas / nas casas / no subúrbios das
cidades / para lá das linhas / nos recantos escuros das casas
ricas / onde os negros murmuram: ainda // O meu desejo / transformado
em força / inspirando as consciências desesperadas. |
Zelai berdeak
Agostinho Neto
euskaratzailea: Iñigo Aranbarri
Zelai berdeak, mendaitz luzeak,
laku eztiak Harmonia betean hedatzen dira lur naretsuan Non begiek halako izuak dituzten lokartzen Buztin gogorraren azpian geldiro erreak, Lehor, behinola itxaropen eztia urritu zen bezala Bero, maitasuna bezain betirako Sarraskitua, zigor zapaltzailearen ahalegin gaitzaren Oroimenean odolustua. Zelai berdeetan, mendaitz luzeetan, laku eztietan Sugar gorriak piztu dira, gorri orroka itsasoak Gorrotoz dir-dirrean, irriz hamaika laztanetan Aho bateko ahotsen egonezinean Bakearen bila, bizitza mendeetako nekean Ezpain artean hitz bati haizea: independentzia! Aljubeko kartzela, 1960ko iraila |
Sao Tomeko sarraskia
Agostinho Neto
euskaratzailea: Iñigo Aranbarri
Orduan izan zen Atlantikoak orduen emanean hilotzak itzuli zituenean bitsezko lore zuritan piztien herra atxikigaitzean bildurik heriozko odol gatzatu gainean Hondartzak belez eta txakalez bete ziren haragi zapalduzko animalia gosez garaien izuek erretako lurraren hondarretan kartzeletan gatibu hartuta oraindik umeek itxaropenaren berdea deitzen duten lur muskerrean Orduan busti ziren gorpuak itsasoan lotsaz eta kresalez gurariz eta zintzotasunez odoldutako uretan Orduan izan zen gure suzko begietan orain odol orain bizitza orain herio guk gure hilei garaipen airez lur eman genienean eta hilobien gainean gizakien eskaintza eskertzen dugu maitasunagatik harmoniagatik eta gure askatasunagatik bai heriotzaren aurrean orduen emanagatik ur odolduetan bai garaipenerako pilaturiko derrota txikietan gugan Sao Tomeko lur muskerra maitasunaren uhartea ere izango da |
Massacre de Sao Tomé Foi quando o Atlántico/ pela
força das horas /devolveu cadáveres /
envolvidos em flores blancas de espuma / e do ódio
incontido das feras / sobre sangues coagulados de morte // As praias se
encheram de corvos e de chacais / em fomes animalescas de carnes
esmagadas / na arena / da terra queimada pelo terror das idades /
esclavizados em cadenas / na terra chamada verde / que as
crianças ainda chamam verde de esperança // Foi
quando no mar os corvos se embeberam / de vergonha e sal / nas
águas ensanguentadas de desejos / e fraquezas // Foi
então que nos olhos em fogo / ora sangue ora vida ora
morte / enterramos vitoriosamente os nossos mortos / e
sobre as sepulturas / reconhecemos a razão do sacrificio dos
homens / pelo amor / e pela harmonía / e pela nossa
liberdade / mesmo ante a morte pela força das horas / nas
águas ensanguentadas / mesmo nas pequenas derrotas acumuladas
para a vitória // Em nós / a terra verde de
São Tomé / será também a ilha do amor. |